Queridos amigos e amigas. Em dias passados fomos surpreendidos com a notícia de que um padre da nossa Arquidiocese de Londrina teria estuprado duas crianças numa piscina pública num clube da cidade. Um homem julgado e condenado pela opinião pública foi batido indolentemente, agredido na sua integridade, conduzido até um distrito policial e daí em diante condenado pela imensa maioria como “pedófilo”. Este homem, como tantos outros, quanto teve nome, foto e história estampados em jornais, rádios e televisões, foi julgado por uma sociedade que se diz suficientemente moral, tolerante e justa.
Mas não somente ele foi julgado. Também foi julgada a instituição Igreja. O homem foi rotulado como pedófilo sem que a Justiça se pronunciasse: juízes, advogados e ele mesmo. As crianças foram julgadas sem serem ouvidas as testemunhas, as psicólogas, os laudos. O princípio básico do direito exige que ninguém seja condenado antes de ser ouvido. Sem ouvir, como é possível chegar a uma condenação? Pedimos a Deus que Ele nos ouça, que Ele tenha tempo para nos ouvir. Ouvir é essencial na comunicação, especialmente em casos como este.
A moral que o mundo propõe é bela quando não se torna exigente. Por isso “não julgueis e não sereis julgados” (Mateus 7, 1-2) não é algo que se apresenta única e exclusivamente aos cristãos. É para todos nós que precisamos descobrir o valor essencial de se aprender a ouvir. Uma sociedade que troca os fatos, inventa elementos e se confunde diante de situações, é uma sociedade doente.
Muitos disseram que queria defender o padre. Disse que procurei acolhê-lo, como acolheria quem batesse na minha porta precisando de ajuda. Uma moral do mundo que fala em cooperação, solidariedade, resiliência questiona o fato de um padre ser acolhido pela Igreja, mesma instituição a qual pertenceu como um irmão, como a uma família. É por isso que a “verdadeira moral rir-se-á da moral” (Blaise Pascal, Pensamento 132). A moral cristã é muito mais que um conjunto de normas, leis positivas ou endereços estabelecidos para condenatórios.
A moral cristã é a síntese do agir como Cristo, do fazer o que Cristo fez, do sentir o que Cristo sentiu. Não é poesia, nem apologia: é atitude concreta de quem decide amar sem limites, mesmo sendo limitado. A Igreja não pretende esconder ou manipular informação alguma; não pretende deixar os fatos impunes, como se nada tivesse ocorrido; e não pretende inocentar ninguém antes de dar-lhe a oportunidade de ser ouvido.
Temos rezado pelas crianças e suas famílias e, sim, pedido um final “feliz” porque acreditamos que felicidade é produto da verdade. Não pedimos o final feliz de novelas enganosas. Desejamos que nosso irmão, o padre Marcos Túlio, e também as crianças e famílias sejam amparadas pelo amor Divino, que cura e liberta. Por isso, pedimos que a Justiça humana seja iluminada e assistida pela Justiça de Deus, para que, juntas, esclareçam a verdade.
Padre José Rafael Solano Durán
Reitor do Seminário Paulo VI
Arquidiocese de Londrina