Por Fernando Morgado
Sendo a única mídia que ainda supera a audiência da televisão em algum momento do dia — no caso, pela manhã — e estando presente em 87,9% dos domicílios brasileiros (PNAD 2009), é indiscutível que o rádio mantém-se relevante enquanto atratora de público e geradora de negócios. Mais do que isso: é uma das únicas mídias que trata a prestação de serviço público como um diferencial competitivo e não como um estorvo. Tudo isso fica ainda mais evidente durante os momentos críticos vividos por uma sociedade, quando uma informação pode, literalmente, salvar milhares de vidas.
Para comprovar isso, nem será necessário recorrer aos conhecidos exemplos da chamada “era de ouro”. Mesmo em tempos de iMacs, iPhones e iPads, nada supera a força do rádio como fonte onipresente de informação nas horas mais importantes, mesmo nos países tecnologicamente mais desenvolvidos.
Japão
Em março de 2011, o Japão foi assolado por uma das maiores catástrofes naturais da sua história, deixando milhares de mortos, desaparecidos e refugiados, além de um acidente nuclear cujas consequências para o futuro ainda não podem ser medidas com exatidão. Naquele momento, todas as grandes corporações japonesas se mobilizaram para ajudar e a Sony — marca diretamente associada com a reconstrução do país após a II Guerra Mundial — também procurou fazer a sua parte, desenvolvendo um equipamento específico para ser doado aos atingidos pela tragédia. Enganaram-se aqueles que pensaram num novo modelo de smartphone ou detablet: toda a alta tecnologia da Sony foi concentrada num… radinho! Além de sintonizar AM/FM, o Sony ICF-B02 possui lanternas, apito e pode funcionar tanto com pilhas quanto pela força gerada manualmente através de uma manivela. Com o auxilio de um adaptador, a energia produzida com o radinho pode ser usada também para carregar um telefone celular.
Chile
O Chile, outro país assolado pela fúria da natureza, também tem uma história importante com o rádio. Após o grande terremoto ocorrido em 2010, o OmnicomMediagroup realizou uma pesquisa para verificar como se deu o consumo de mídia durante a tragédia. Quando perguntados sobre qual meio consideravam o mais confiável para se informarem numa situação fora do normal ou limite, 67,8% dos entrevistados responderam: rádio. Em tempo: o meio jornal ficou em 2º (13%), a TV em 3º (9,6%) e a Internet em 4º (5,2%). Lembrando que o Chile possui um excelente sistema de televisão pública — conforme já abordado num artigo anterior —, quase 40% dos lares possuem TV paga e mais de 35% tem acesso à web — isso sem falar dos celulares 3G (dados da Subsecretaria de Telecomunicações do governo chileno).
Brasil
Voltando um pouco mais no tempo, pode-se também citar como exemplo o apagão ocorrido em 2009, que deixou quase meio Brasil sem luz. Para a maioria esmagadora dos cidadãos, que ficou sem poder ligar a TV ou não possuíam notebooks nem telefones com conexão à Internet, o rádio foi por onde descobriram as proporções do problema, ficaram sabendo das condições de trânsito e ainda foram informados das primeiras ações por parte do governo. Aqueles que puderam acessar as redes sociais — especialmente o Twitter — tiveram condições não apenas de repercutir os acontecimentos com seus amigos, mas também informar as emissoras de rádio sobre o que estava acontecendo na sua região. Segundo reportagem do Meio & Mensagem de 11 de novembro de 2009, a CBN “registrou um aumento de mensagens entre 200% e 300% em comparação com os dias normais”.
Interatividade, agilidade e mobilidade: as palavras de ordem da era digital e que estão presentes desde o rádio de Galena fazem a diferença nas horas em que a informação é mais necessária. Muito além das questões tecnológicas, a força do rádio nasce justamente dos diferenciais intrinsecos à sua linguagem e que fazem dela uma mídia ainda indispensável e insubstiutuível.
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